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Emoção marca entrega de emerência para Heloisa Helena Barboza, professora da Uerj. Presidente e vice-presidente do TRF2 participam da homenagem
JF2
Generosidade, pioneirismo, altivez, serenidade, respeito à Democracia e simplicidade, palavras presentes nos discursos em homenagem à Heloisa Helena Barboza, primeira mulher a ganhar o título de professora emérita da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ). Mais de cem pessoas, entre magistrados, professores, alunos, ex-alunos, procuradores, advogados e servidores lotaram o salão nobre da Faculdade de Direito, no Maracanã, zona norte da cidade. Além de Heloisa Helena, compuseram a mesa a reitora da UERJ, Gulnar Azevedo e Silva; seu vice-reitor, Bruno Deusdará; o diretor da Faculdade de Direito, Carlos Edison do Rego Monteiro Filho e o diretor do Centro de Ciências Sociais, Renato Veloso. O presidente do Tribunal Regional Federal da 2ª Região (TRF2), desembargador federal Guilherme Calmon, e seu vice, desembargador federal Aluisio Mendes, assistiram a cerimônia.
“Uma mulher à frente do seu tempo”, diz Calmon
Antes da cerimônia, Calmon ressaltou o pioneirismo da professora. “A trajetória de Heloisa Helena Barboza se confunde com a história da UERJ. Ela se formou aqui e aqui se tornou a primeira mulher a ocupar a direção da Faculdade de Direito. São mais de 40 anos de dedicação. Tive o privilégio de ser seu aluno e a honra de ser seu orientando. Hoje me orgulho muito de ser seu amigo e colega. No nosso convívio sempre a admirei, não só pela sua generosidade, mas por ser uma mulher à frente de seu tempo. Uma pioneira, que sempre busca temas atuais e relevantes, como a Telessaúde e a Saúde Digital”. O magistrado lembrou ainda que a produção acadêmica de Heloisa Helena tem reflexos até hoje na vida das pessoas, “Mulher sensível, na sua tese de Doutorado, ela se preocupou com cidadãs e cidadãos que sofrem discriminação. Até hoje seu trabalho sobre redesignação sexual é referência para as políticas públicas com foco no gênero, reprodução assistida e proteção a vulneráveis".
Muito emocionada, Heloisa Helena agradeceu aos amigos presentes. “Eles me trouxeram até aqui, num lugar que só se chega com o suporte de muitas mãos”, lembrou. Em seu discurso, a mais nova emérita da UERJ contou um pouco das etapas de sua vida, da escola primária até as bancas da Faculdade de Direito. “Se fosse necessário dar um título a esse discurso, este título seria ‘como o Direito reescreveu a minha história’. Filha de classe média, nem pobre e muito longe de ser rica, fui alfabetizada numa pequena escola de bairro, pequena , mas grande o bastante para me abrir as portas do mundo. Tenho orgulho de ter estudado em escolas públicas e gratuitas, com qualidade reconhecida. A formação que recebi ali me valeu para o futuro. Depois me tornei professora da rede estadual, mas o baixo salário me fez buscar outro emprego, através de um concurso público. Ainda bem jovem, passei a ser servidora pública no setor jurídico de uma empresa federal. Estava plantada a semente".
“Fiz o vestibular só para a UEG, sem grandes esperanças. E passei. Iniciei aquele que seria meu destino. Estávamos sob regime militar, governado pelo General Medici e sob a regência do AI-5, de triste memória. O que poderia se ensinar numa faculdade de Direito em tempos do fechamento do Congresso Nacional de dura repressão de suspensão de direitos civis e políticos em tempos em que os professores e alunos assim como qualquer pessoa poderia desaparecer num passo de mágica?”, narrou Heloisa Helena, lembrando da sorte de, nessa época, ter tido mestres como José Carlos Barbosa Moreira e Simão Isaac Benjó.
“Se não passamos o que sabemos, o saber morrerá conosco”, afirma Heloisa Helena
Das salas de aula, Heloisa Helena aprendeu uma lição. “Aprender, creio eu, é uma de nossas missões na vida. Transmitir o que aprendemos é mais do que um dever; é o que dá sentido ao aprendizado. Se não passamos a nossos alunos o que sabemos, o saber morrerá conosco”. A professora citou uma frase atribuída ao filósofo Aristóteles, que dizia que o verdadeiro discípulo é aquele que supera o mestre. “Ao longo dos anos, essa afirmativa se tornou uma realidade para mim. Muitos de meus ex-alunos se destacaram nas carreiras jurídicas das mais variadas e de modo brilhante”, elogiou, com muita generosidade.
A reitora Gulnar Azevedo e Silva não escondia a alegria de prestar essa homenagem à Heloisa Helena. “Ainda hoje, mesmo aposentada, ela ainda colabora com o mestrado profissional em Telessaúde e Saúde Digital”, agradeceu. “Antes disso, Heloisa deu conta de aliar o trabalho administrativo com a vida acadêmica, um exemplo para nós, mulheres, que assumimos muitos compromissos e desafios na nossa vida profissional”, elogiou. Gulnar lembrou ainda dos recentes protestos de alunos na UERJ. “Vivemos tempos difíceis aqui, com reações desproporcionais. Foi preciso entender com calma todas as mudanças. Contamos com o apoio da professora Heloísa e dos professores da Faculdade de Direito, não só para lidar com a tomada de decisões, mas também para o estabelecimento dos procedimentos administrativos, de forma assegurar os princípios de uma sociedade que busca o Estado Democrático de Direito e a defesa incondicional de nossas instituições”, disse.
“Excelência, seriedade, comprometimento e integridade”, declarou Carlos Edison
O diretor da Faculdade de Direito, Carlos Edison do Rego Monteiro Filho, disse se orgulhar muito de ter acompanhado os primeiros anos de Heloisa Helena na UERJ. “De 1987 testemunhei a professora fazer brilhantes concursos de titularidade aqui nessa sala. Como pesquisadora, um doutoramento fora dos muros da Faculdade de Direito, buscando uma interlocução na área da Saúde, Antes de tudo, é esse encanto de pessoa, com capacidade em gestão e de impulsionar e inspirar gerações e mais gerações de alunos. É um símbolo de excelência, seriedade, comprometimento e integridade”, disse o diretor.
“A simplicidade no trato com as pessoas”, disse Tepedino
Gustavo Tepedino, professor titular de Direito Civil e ex-diretor da Faculdade de Direito da UERJ, lembrou dos tempos em que substituiu Heloisa Helena, quando ela se licenciou para o nascimento da filha. “Me encantei com sua altivez em conciliar desafiadoras funções como professora, mãe zelosa, membro do Ministério Público. Tive o privilégio de me tornar seu amigo. Compartilhamos períodos de profundos mudanças, com a criação da pós-graduação lato sensu, programas de extensão a introdução do regime de cotas, com seu compromisso de inclusão social”, elogiou Tepedino. Como gestora, o professor ainda lembrou de outras qualidades. “Além de importantes contribuições científicas e a densa produção acadêmica, Heloisa tem essa simplicidade no trato com as pessoas e na solução de problemas complexos, o que a torna uma pessoa sempre agregadora”, encerrou o professor.